7.12.12

Eu lembrei o que era amar

Hoje, enquanto dava voltas pela casa à espera de notícias, reparei que a porta do guarda-roupa dos fundos estava ligeiramente aberta, talvez ela nem quisesse que eu percebesse isso. Aquela porta era aonde eu guardava álbuns antigos, cobertores esfolados de tanto que foram usados, etc, etc, etc. A inquietude daquelas vozes que eu não ouvia há anos me diziam: "você ainda se lembra da cor dos meus olhos?" e "qual perfume eu costumava usar?". E por não saber responder nenhuma das perguntas, achei que talvez fosse a hora. Memórias, ai. Aquelas páginas, muitas vezes grudadas umas nas outras, me lembraram de histórias como a daquele natal, que a família inteira havia viajado, e eu e meus pais fizemos um festival de pizzas, jogamos jogos de tabuleiro e ali, naquela mesa, o riso era farto e não haviam decepções. A não ser quando alguém caia na casa da vingança, que nos obrigava a mandar outra pessoa pra o comecinho do jogo. Em um dos meus aniversários, meus pais não tiveram dinheiro para fazer uma grande festa, então compraram umas dez guloseimas variadas no supermercado e fizeram um joguinho comigo, onde eu não podia ver qual guloseima eu escolhia, devia falar um número e só teria direito de comer a guloseima com a numeração que eu escolhesse. E foram naquelas horas que eu, uma pessoa que nunca soube prestar atenção nas coisas, nunca soube explicar as coisas, soube o que era amar. E eu me senti em um nível de superioridade indiscutível em relação a todos os meus colegas que falavam sobre família superficialmente. Decerto eu não sabia falar sobre isso. Mas já podia sentir. E foi ao me lembrar de todas essas pessoas incríveis que um flash muito lindo - que me fez voltar uns cinquenta anos no tempo e lembrar da cor dos olhos daquelas pessoas e do cheiro doce que seus corpos ofereciam ao ar puro do nosso sítio.

2 comentários:

Obrigada, gafanhoto :3